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VI ENANPARQ - A ESCRITA DA HISTÓRIA URBANA DO ESPÍRITO SANTO: REFLEXÕES CRÍTICAS

Atualizado: 14 de mar. de 2021


O Encontro Nacional da ANPARQ, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, é um evento bianual realizado por professores, pesquisadores e discentes de pós-graduação e graduação que atuam na área de Arquitetura e Urbanismo. Objetiva contribuir no incentivo a atividades inerentes à formação, à pesquisa, à extensão, à cultura e ao desenvolvimento cultural e tecnológico dessa área, assim como busca revelar a produção acadêmico-científica e profissional gerada nesse interstício temporal.


O VI ENANPARQ realizou-se, entre os dias 01 e 05 de março de 2021, de forma 100% virtual, e teve por tema “Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo”.


Nessa edição, a Profa. Dra. Luciene Pessotti (UFES), coordenou uma Sessão Livre, juntamente com a Profa. Dra. Luciana Nemer (UFF), onde participaram o Prof. Dr. Nelson Pôrto Ribeiro (UFES), a Profa. Dra. Andressa da SIlveira Morelato (Rede Doctum), e a doutoranda Sofia Simôes (UCoimbra).


A Sessão Livre abordou o tema A ESCRITA DA HISTÓRIA URBANA DO ESPÍRITO SANTO: REFLEXÕES CRÍTICAS, que problematizou as questões abaixo:


O campo de saber da história urbana integra o processo da renovação do domínio científico ocorrido no início do século XX, no âmbito da História Nova. Os verbetes da História Nova (LE GOFF, 1998) foram importantes na definição de conceitos-chave e recursos teóricos metodológicos para a história urbana. Nesta perspectiva analisam-se as estruturas da sociedade e problematiza-se, identifica-se e confronta-se os diferentes tempos das conjunturas e dos acontecimentos que determinaram ou influenciaram as transformações e rupturas na dinâmica social e espacial (POMIAN, 1998). O estudo das cidades na longa duração permite a apreensão e explicação das permanências e mudanças, i.e., daquilo que mudou lentamente e das injunções que delinearam inovações, revoluções e rupturas (BRAUDEL, 1986). O recurso teórico da individuação das estruturas, tais como, os fenômenos geográficos, sociais, culturais, psicológicos e técnicos foi determinante para o entendimento da dinâmica urbana no passado. Novos objetos, problemáticas e abordagens teórico-metológicas foram utilizados e elaborou-se em estruturas urbanas, a (1) história dos hábitos; (2) história da cultura material; (3) nova abordagem dos sistemas econômicos; (4) história da marginalidade revelando traços estruturais do processo de exclusão e integração; e (5) história do imaginário, abarcando o campo da experiência humana e das representações.

A noção de documento, importante contribuição da renovação epistemológica no campo de saber da história, possibilitou uma maior diversificação das fontes utilizadas nas pesquisas. Os objetos de estudo são investigados sob métodos e problemáticas que enriqueceram o aparato conceitual das pesquisas (LE GOFF, 1994). Segundo Burke (1992), os problemas das fontes e dos métodos são oriundos da busca de novos objetos de pesquisa. As imagens, a história oral, os documentos oficiais ampliaram o espectro das investigações. A leitura das fontes, respeitando seus princípios subjacentes sem comprometer sua confiabilidade e veracidade, trouxeram à luz novas interpretações revelando aspectos ignorados.

Pesquisas sobre a rede urbana brasileira na longa duração vêm adotando nas últimas décadas esta perspectiva teórico-metodológica, com várias abordagens. No campo de produção do conhecimento cientifico as reflexões sobre a formação e estruturação do espaço das cidades no período colonial e imperial são refletidas dentro dos novos paradigmas. A história urbana do Espírito Santo vem sendo investigada por diferentes pesquisadores que refutam biografias e obras que repetiam narrativas sem reflexões pertinentes ao campo da arquitetura e do urbanismo.

Estas investigações aprofundaram-se a partir das mudanças nas práticas investigativas, nas pesquisas e escrita da história. Concepções dominantes da história linear dos fatos foram substituídas por concepções intrínsecas à história das estruturas. Mudam-se as narrativas que tendiam a generalizações. Tal perspectiva induz a graves erros e a conclusões reducionistas. O uso de analogias, com base nas semelhanças, e não nas diferenças entre diferentes classes pré-estabelecidas, oculta as singularidades, e a particular importância e características que cidades possam ter dentro de um contexto regional ou num vasto território são desconsideradas.

No método do sistema dos contextos proposto por Lepetit (2001), estes seriam reconstituídos por uma série de “[...] variações do ângulo de visão da acomodação da óptica” (p.207), que possuiria duplo estatuto: resultaria da “[...] combinação de milhares de situações particulares e ao mesmo tempo dá sentido a todas elas” (p.207). Para saber se o conjunto reconstituído estaria completo seria necessário outro método: o de definição de uma escala. A variação de escala poderia dar conta da complexidade do real e de sua inscrição em um mundo de medidas díspares. Utilizam-se as noções de escala, escalas de referência, proporção, redução, todas oriundas da geografia e da arquitetura.

A interdisciplinaridade é importante contribuição. A cidade (LEPETIT, 2001) é “[...] um objeto complexo em que se manifestam todos os fenômenos de interação, um conjunto que é mais do que a soma de suas partes” (p.39; 40). A complexidade do sistema urbano e da evolução de suas formas de organização fazem da cidade um objeto específico, “[...] a compreender-se historicamente por si mesmo” (p.40). Logo, “[...] sua emergência resulta menos do desenvolvimento da historiografia do que de uma confrontação cruzada das interrogações das ciências humanas” (p.40).

Constata-se que o emprego de novos pressupostos teórico-metodológicos, a releitura de documentação de fonte primária, diferentes escalas de análises e abordagens e a contribuição de outros campo de conhecimento aprofundou e enriqueceu a história urbana no Brasil e no Espírito Santo, ampliando, inclusive, os objetos de estudo.

Os trabalhos desta Sessão visam apresentar o aprofundamento das investigações sobre a história urbana do Espírito Santo. O primeiro destes trabalhos apresenta uma releitura crítica de documentos de fonte primária e apresenta à luz da dinâmica administrativa da Metrópole novos dados sobre fundação da Vila da Vitória e sua defesa no Século XVI. O segundo texto apresenta resultados recentes de pesquisa de pós-doutorado acerca da evolução da habitação na Vila de Vitoria, no período colonial e imperial, a partir da investigação de fontes primárias e secundárias. O terceiro trabalho demonstra a atuação dos engenheiros ao longo do século XIX, enquanto nova categoria profissional, que alteraram a configuração urbana de Vitória, tornando a vila em cidade, esmaecendo a influência do catolicismo e laicizando o espaço urbano. O quarto trabalho identifica momentos de povoamento da região de São Mateus (século XVI-XIX) objetivando o entendimento da evolução urbana. A partir do entrecruzamento de fontes documentais com pressupostos teórico-metodológicos demonstra os princípios da implantação colonial. O quinto trabalho objetiva refletir a influência italiana na paisagem cultural do município de Santa Teresa desconstruindo antigas narrativas e refletindo dentro desta perspectiva teórica uma nova abordagem sobre o estudo do sítio.

REFERÊNCIAS BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editoria UNESP, 1992. LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Ed. Unicamp, 1994. LE GOFF, Jacques (Dir.). A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 1998. LEPETIT, Bernard. Por uma nova história urbana. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. POMIAN, Krzysztof. História das estruturas. In: LE GOFF, Jacques (Dir.) História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.97-123. BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais. Santa Maria da Feira: Editorial Presença Lda, 1986.


Os trabalhos apresentados foram:


TEORIA, INVESTIGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DOCUMENTOS: CONTRIBUIÇÕES PARA A ESCRITA DA HISTÓRIA URBANA DO ESPÍRITO SANTO - Profa. Dra. Luciene Pessotti


O MORAR CAPIXABA NA COLÔNIA E NO IMPÉRIO - Profa. Dra. Luciana Nemer


HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO E HISTÓRIA URBANA. Os engenheiros, e a modernidade em Vitória: o plano Moniz Freire - Prof. Dr. Nelson Pôrto Ribeiro


DESCONSTRUINDO NARRATIVAS: O ESTUDO DA PAISAGEM E AS NOVAS ABORDAGENS SOBRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA EM SANTA TERESA/ES - Profa. Dra. Andressa da Silveira Morelato.


SÃO MATEUS: CINCO SÉCULOS DE TERRITÓRIO, UMA HISTÓRIA URBAN(ÍSTIC)A A SER (RE)ESCRITA - SOFIA SIMÕES - doutoranda Sofia Simões.


Para saber mais sobre o evento acesse o link.


Para assistir a Sessão Livre na íntegra acesso o link do Youtube.



Acesse o arquivo abaixo para ler o resumo expandido da Sessão Livre apresentada no VI Enanparq.


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