Devido a pandemia da COVID-19 o mundo tem passado por diversas transformações, nossas relações sociais e com os espaços foram afetadas, as vivências cotidianas sejam elas em espaços públicos ou privados, passam a ser experimentadas sob uma nova perspectiva.
Durante o isolamento e distanciamento social, com maiores medidas restritivas ou nas fases menos rigorosas, a arte que sempre desempenhou um papel de grande importância na vida das pessoas, torna-se ainda mais imprescindível, seja em séries, filmes, pintura, literatura, produção ou apreciação artística, entre tantas outras formas que há a manifestação artística.
Segundo o psicólogo e Doutor em saúde coletiva da UNICAMP Bruno Emerich, a arte tem feito um papel de conexão na pandemia, pensando na dimensão cultural esse contato aproxima as pessoas ampliando a compreensão e sentimento desse momento.
Os centros culturais, museus e galerias de artes quem têm um papel fundamental na esfera artística, encontram-se fechados em quase todos os lugares do mundo, entretanto, estão funcionando virtualmente. Algumas galerias já dispunham de visitas online e durante a pandemia houve um aceleramento dessa modalidade. Além desses espaços artísticos é possível “visitar” diversos pontos turísticos sem sair de casa.
Por exemplo, o Google Street View mapeou digitalmente diversos Patrimônios Históricos e Culturais, permitindo a visualização em 360° de lugares como Taj Mahal, templos Angkor Wat e Grand Canyon.
Teremos também acesso a visitas a projetos arquitetônicos como a Casa Farnsworth, projetada pelo arquiteto Mies Van Der Rohe, por meio de realidade virtual.
A idealizadora da Up Time Art Gallery, Marisa Melo, acredita que os espaços virtuais são uma forma de democratização da arte, diminuindo a distância das pessoas das galerias e aumentando o acesso a apenas “um clique”. Durante esse período foram criados museus totalmente online, como o The Covid Art Museum, que é um projeto concebido por três espanhóis e funciona através do Instagram e reúne diversas obras que envolvem uma única temática, o novo coronavírus.
Além disso foi inaugurado o VOMA - Virtual Online Museum of Art, o primeiro museu de arte 100% virtual, onde permite que os espectadores caminhe pelos espaços expositivos e se aproxime das obras de arte.
Em Nova York já havia um movimento de Arte Pública que se intensifica nesse momento, criando exposições fora das galerias em espaços públicos e abertos onde evita a aglomeração de pessoas em ambientes fechados que são mais propícios à disseminação do vírus.
O diretor do Public Art Fund, Nicholas Baume, declarou que “Um dos principais motivos pelos quais a arte pública é tão importante para todos nós neste momento, é a sua capacidade de renovar o nosso sentido de pertencimento e comunidade: ela nos faz lembrar que todos nós devemos assumir uma responsabilidade, que a arte deve ser acessível e que devemos valorizar os nossos espaços públicos como locais de expressão criativa e onde nossos valores democráticos devem ser celebrados todos os dias.”
Além de todas essas possibilidades trazidas para o campo virtual também teremos o incentivo à arte local. Um exemplo disso é o Centro de Artes de Águeda - CAA em Portugal, que assim como nos demais lugares, teve suas atividades ao público suspensas. Contudo iniciou vários projetos nas plataformas digitais, com o objetivo de promover a cultura artística através de "e-encontros", que são rodas de conversa que possibilitam trocas de conhecimento sobre a temática artística e suas nuances. Neste período, também estão produzidos podcasts que trazem artistas locais portugueses para conversar sobre seu trabalho e trajetória. O Centro de Artes tem realizado exposições virtuais que permitem a interação da comunidade. Atualmente contam com a exposição “Mais nada se move em cima do papel” disponibilizada gratuitamente através do site do CAA.
O diretor do Centro de Patrimônio Mundial da UNESCO, Professor Michael Turner, em um artigo disponibilizado pelo site da UNESCO sobre o futuro dos Patrimônios Históricos diante de uma crise turística causada pela pandemia disse que,
“Não visitar presencialmente o patrimônio urbano reduz nossas experiências táteis, mas abre novas e surpreendentes percepções sobre nossos ambientes. As experiências serão menos sensoriais e mais perceptivas. Essas experiências envolvem os realismos da: Realidade através da Realidade Aumentada (RA) e, por fim, da Realidade Virtual (RV) .”
Sabemos que é impossível prever o fim de fato da Pandemia da COVID-19, mas é importante permitir olhar essas novas percepções e formatos de vivências espaciais como possibilidade de estar em contato com a arte em suas multiformes, e se expor a essa conexão que ela nos permite experimentar.
📷: Mutación. Ra Anguloaf (@raangul)
REFERÊNCIAS
PORTAL UNESCO. O Futuro do Patrimônio Mundial no Contexto de uma Crise do Turismo Resultante de uma Pandemia. Disponível em: https://capitalmundialdaarquitetura.rio/rio-capital-mundial-da-arquitetura/o-futuro-do-patrimonio-mundial-no-contexto-de-uma-crise-do-turismo-resultante-de-uma-pandemia/. Acesso em: 13 de Abr. 2021.
TECNOLOGIA IG. Galerias virtuais Democratizam o Acesso a Arte Durante a Pandemia Disponível em: https://tecnologia.ig.com.br/2021-01-24/galerias-virtuais-democratizam-o-acesso-a-arte-durante-a-pandemia.html/. Acesso em: 12 de Abr. 2021.
IDEALISTA NEW. The Covid Art Museum: a primeira galeria de arte (virtual) criada em tempos de pandemia. Disponível em: https://www.idealista.pt/news/especiais/covid-19/2020/04/30/43217-the-covid-art-museum-bem-vindos-a-primeira-galeria-de-arte-virtual-criada-em-tempos-de. Acesso em: 12 de Abr. 2021.
ARCHDAILY. Voma, o Primeiro Museu de Arte Totalmente Virtual do Mundo. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/952899/voma-o-primeiro-museu-de-arte-totalmente-virtual-do-mundo. Acesso em: 13 de Abr. 2021.
ARCHDAILY. Como a pandemia mudou o modo de experienciar arte em espaços públicos? Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/956712/como-a-pandemia-mudou-o-modo-de-experienciar-arte-em-espacos-publicos?ad_source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 13 de Abr. 2021.
Centro de Artes de Águeda. Projeto Educativo e Mediação de Públicos. Disponível em: https://www.centroartesagueda.pt/conteudo.php?pagina=projecto_educativo Acesso em: 13 de Abr. 2021.
MINI BIO DA AUTORA
Rebeca Tavares, nascida em Governador Valadares-MG, criada em Vitória-ES e atualmente vive em Portugal. Estudante de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Integrante do Grupo de Estudos Andança no período de 2020 - até o momento. Membro do grupo de pesquisa do Núcleo de Participação e Democracia (NUPAD) do departamento de Ciências Sociais (UFES) no período de 2017-2019, Bolsista voluntária em Iniciação Científica CNPq|PIVIC no período de 2017-2018.
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