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EPISÓDIO PILOTO #1 A CRUEL PEDAGOGIA DO VÍRUS

Atualizado: 17 de fev. de 2021




O episódio foi gravado em 17 de junho de 2020 e apresenta o debate do livro “A cruel pedagogia do vírus”, de Boaventura Souza Santos. As integrantes do Grupo Andança debateram sobre o novo coronavírus enquanto emergência e não crise; a discriminação de grupos sociais na quarentena; política e processos civilizatórios; a importância da linguagem no cenário neoliberal; o direito a cidade; o discurso conservador da classe média; a violência simbólica, estrutural e as lições do novo coronavírus.



A Profa. Dra. Liziane Jorge abriu a discussão abordando a relação entre a crise da pandemia e a lógica neoliberal. Citou o exemplo dos problemas ambientais e trabalhistas no Brasil e no mundo. Ressaltou que se trata de uma crise antrópica. Lembra que nenhum país está preparado para a pandemia. Citou que poucos países possuem sistema de saúde pública, caso do Brasil, apesar dos desmontes de programas desta área e do setor social. Relacionou a pandemia à crueldade da situação de vida da população de baixa renda.


A aluna Jéssica Costa citou a crise neoliberal e sua relação com o capitalismo e a pandemia. A pandemia, na visão de Boaventura Santos, reforçou Jessica, funciona como uma lente de aumento que permite ver em outra escala os problemas sociais, econômicos, ambientais, entre outros. A pandemia demonstra ainda que há outras formas de se viver na sociedade e concomitantemente expõe a fragilidade da vida humana. Os problemas de saúde se ampliam, ressalta a aluna, como no caso das doenças mentais. A importância da educação e da ciência se faz presente num contexto de baixa escolaridade. A aluna enfatiza, sob a perspectiva do texto estudado, que o capitalismo é um sistema que está em colapso. Conclui afirmando que o patriarcado, colonialismo e capitalismo são indissociáveis e acirram a luta civilizatória.


A Profa. Dra. Flávia Botechia afirmou que o texto é contemporâneo e uma espécie de farol. Problematizou a inserção do Brasil no contexto da pandemia. Abordou a noção de aprendizado de Boaventura Santos e reafirma algumas questões. Como apreendemos? As crises são lições. O que estamos aprendendo com a pandemia? Em alguns países a pandemia é uma crise da normalidade, pois, expõe a vida das pessoas vulneráveis, que são mais suscetíveis ao novo coronavírus e outras mazelas. O mundo moderno é ambíguo, fragmentado, e há situações opostas em extremo. É preciso olhar o sofrimento com compaixão. No aspecto das cidades, a pandemia é um confronto com a realidade.


Paula Azevedo citou a queda do muro de Berlim e a sua relação com a face mais cruel do capitalismo, o neoliberalismo. Ressaltou que a crise do capitalismo expõe o enfraquecimento do Estado e coincidiu com o grave problema sanitário da pandemia. A pandemia, enquanto lupa, amplia as desigualdades em âmbito mundial. Citou que 1% da população mundial vive em bairros informais, sem direito à cidade. Paula ressalta que Boaventura Santos afirma que os seres humanos representam 0,01% dos seres vivos no planeta e devem dar conta do problema ambiental e sanitário. O darwinismo social expõe os mais vulneráveis, e no que lhes concerne, dão condição a muitas pessoas de ficarem em isolamento.


A Profa. Dra. Luciene Pessotti relacionou o que foi abordado. Citou o enfraquecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil, a partir da contribuição das obras do juiz Rubens Casara. Reafirmou a importância do S.U.S. Ressaltou que no Brasil vive-se uma crise dentro de várias crises. Há várias doenças convivendo na pandemia. A relação do patriarcado, do colonialismo, e do capitalismo na pandemia influenciaram no aumento de casos de feminicídio e racismo. A pandemia, enquanto lupa, ampliou os problemas urbanos no Brasil e a população brasileira toma ciência da crise das cidades.


As debatedoras abordaram as lições da pandemia. A Profa. Liziane abordou o capítulo 3, onde Boaventura Santos problematiza a noção de sul da quarentena, metáfora do sofrimento. A professora ressaltou a condição das mulheres brasileiras, a emancipação feminina, e expôs a situação de vulnerabilidade que se encontram na pandemia, como as enfermeiras, cuidadoras e empregadas domésticas. No país há 13 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza e cresce o trabalho informal. Estas pessoas habitam a cidade sem direito a ela. A aluna Jéssica ressaltou a importância de se repensar o sistema social e econômico, indagando, como isso se dará, e como conscientizar a população. Cita a ótica neoliberal e sua relação com o psicodrama. Nascemos numa placenta social. Ressalta, sob a perspectiva de Rubens Casara, a importância da linguagem para fortalecer o conhecimento e a conscientização da população. Cita a relação das igrejas pentecostais e a extrema-direita e o problema dos discursos que enaltecem a economia em detrimento da vida humana. A Profa. Flávia Botechia enfatizou a relação de diálogo entre o primeiro e o quinto capítulo. A vida aquartelada, a quarentena, numa sociedade líquida, onde o que é sólido se desmancha no ar em confronto com as múltiplas possibilidades e opções de vida e consumo. Relacionou esta relação com a cidade. Citou as imagens de esvaziamento das cidades com a presença de animas em seus espaços. Lembrou a importância dos arquitetos e urbanista para repensar nossa existência nos espaços de viver. A aluna Paula enfatizou o termo “sociologia das ausências”que abarca os indivíduos sociais que não estão em voga, sem peso social, invisíveis. A aluna abordou, ainda, o termo “necropolítica” e a objetificação dos corpos descartáveis. Citou os crimes ambientais de Brumadinho e Mariana como exemplo. Concluiu citando que na pandemia grande parte da população brasileira está vulnerável, numa situação de esquecimento pelo Estado, que se encontra muito fragilizado.


A Profa. Dra. Luciene Pessotti faz a relação entre as questões abordadas e convida os ouvintes à reflexão. Com um número de mortes no Brasil nesta data, um pouco superior a 50 mil, a professora afirma que o país está em meio ao caos; remetendo-se a Boaventura Santos que afirmou que este seria o quadro pandêmico. Luciene ressalta a importância da espiritualidade e não da religião; o valor da ciência e das instituições de ensino e pesquisa. Conclui lendo o texto “Quando a cidade perde a humanidade”, de Andrea Borges de Souza Cruz. Participaram deste episódio a Profa. Dra. Luciene Pessotti, Profa. Dra. Liziane Jorge, Profa. Dra. Flávia Botechia, e as alunas Jéssica Costa e Paula Azevedo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, Boaventura de Sousa. A CRUEL PEDAGOGIA DO VÍRUS. Portugal: Almendina, 2020.

Para ouvir o episódio acesso aqui o link do Spotify.


AUTORA DO TEXTO: PROFA. DRA. LUCIENE PESSOTTI


BIO/ MINI CURRÍCULO DO AUTOR

Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) no curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Coordenadora do Grupo de Pesquisas CRETA/CNPq. Membro do Grupo de Pesquisa GPTA/DAU/UFES. Coordenadora do Projeto de Pesquisa Andança com divulgação dos debates em podcast. Pesquisas de Pós-Doutorado UFBa (2020 - em andamento). Pós-Doutoral pelo CNPq/FAPES no Programa DCR (UFES-2007/2010). Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2005). Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (1994), Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2000). Especialista em Restauração e Conservação de Monumentos e Sítios Históricos (IX CECRE) (1996). Sócia do IHGES. Possuí experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: preservação do patrimônio cultural, preservação do patrimônio ambiental urbano, desenvolvimento urbano.

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