Estamos há quase um ano e meio do primeiro caso confirmado de infecção do novo coronavírus e ainda não conseguimos mensurar de forma clara as consequências devastadoras trazidas, e que ainda estão em curso, em decorrência da pandemia de COVID-19. Segundo a OMS, enquanto a vacinação não ocorre de forma totalitária o distanciamento social e o uso de máscara são a maneira mais eficiente contra a disseminação do vírus.
Diante disso, o confinamento ocorrido em grande parte do mundo exigiu uma mudança e uma nova forma de pensar a estrutura dos modelos habitacionais e de cidades existentes. A casa passou a ser também trabalho, escola, academia e convívio. As ruas evidenciam a necessidade de calçadas maiores, que sejam capazes de abrigar outros modais como ciclovias, e os espaços públicos de lazer passam a ser mais valorizados. Inevitavelmente a estrutura dos espaços se transformaram e a relação com eles também. Frente a isso, os arquitetos e urbanistas passaram a encarar um novo leque de necessidades face à atual realidade imposta pela pandemia, dentre elas, como os espaços públicos podem ser usados de forma a respeitar as regras de distanciamento, bem como a criação de layouts que sigam essas regras e adaptações de acabamentos anti-bacterianos que facilitem a higienização dessas áreas. Como exemplo disso, as praias e parques públicos que voltaram a funcionar tem seus espaços delimitados para o melhor funcionamento a respeito do protocolo de segurança. No Brasil o Parque Ibirapuera, em São Paulo, usou círculos desenhados no gramado, para incentivar o distanciamento e assim assegurar o uso desses espaços de maneira responsável e em Portugal o Jardim de Ondas localizado no Parque das Nações, em Lisboa, usou essa mesma estratégia.
A busca pelos espaços públicos abertos que permitem a interação com a natureza tem tido um papel fundamental no cotidiano pandêmico nas cidades. Esses espaços outrora nem sempre percebidos ou pouco frequentados, passam a exercer um papel importante de lazer, saúde física e mental dos cidadãos.
Os projetos concebidos nessa fase, sejam eles de caráter provisório ou permanente, são marcados pela mudança de hábitos, maneiras diferentes da relação pessoal com os espaços internos e externos. Segundo Maria João Andrade, fundadora do ateliê MJARC Arquitectos, o desafio também consiste em equilibrar os universos que se compõe dentro e fora da casa, além dos aspectos socioeconômicos e culturais da cidade.
Segundo o arquiteto e presidente da Associação Espanhola de Proteção do Patrimônio, Fernando Espinosa de Los Monteros, já existia antes mesmo da pandemia uma necessidade de se debater o que ele nomeia de Arquitetura Saudável, cujo o objetivo é usufruir de espaços mais amplos, agradáveis e limpos, tanto em espaços públicos quanto na esfera privada.
Os espaços públicos, que já eram indispensáveis, passaram a exercer uma função primordial nas cidades, e revelaram também a precariedade desses em várias cidades do mundo. Tais espaços precisam ser melhor geridos e configurados para criar cidades mais saudáveis tanto durante a pandemia quanto no mundo pós-pandemia.
A Faculdade de Arquitetura da Universidade de Porto - FAUP, juntamente com a Facultad de Arquitectura y Urbanismo de Lima, Pontificia Universidad Católica de Perú, Pontificia Universidad Católica de Ecuado e Escuela de Arquitectura, Arte y Diseño del Campus Querétaro del Tecnológico de Monterrey, iniciaram um estudo desde o início da pandemia intitulado “Cidades Emergentes” que tem como objetivo aferir o impacto do isolamento social durante a pandemia e o modo de olhar para as cidades e habitação nesse momento, sistematizando informações através de inquéritos online, com questões sobre as características habitacionais internas, explora relações com o entorno, qualidade de espaços públicos entre outros aspectos. A ideia é que esses dados contribuam para discussões sobre o futuro das cidades e habitação. O estudo ocorreu em Portugal, Espanha, México, Peru, Equador, Brasil e Canadá.
A importância desse tipo de estudo é a sistematização desses dados, que geram base para discussões pertinentes e importantes como qualidades de espaços de habitação, bem como qualidades de espaços públicos, apoiando a construção de políticas públicas de maneira mais eficaz para o enfrentamento dos problemas da cidade, trazendo a perspectiva dos cidadãos e usuários dos espaços para dentro da solução, evitando que as políticas públicas ou outras iniciativas de melhoramento desses espaços sejam descolados da realidade.
Referências:
ARCHDAILY. Mais vegetação, espaços de convívio e mobilidade ativa: o que desejam os paulistanos na pandemia.Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/957441/mais-vegetacao-espacos-de-convivio-e-mobilidadeativa-o-que-desejam-os-paulistanos-na-pandemia. Acesso em: 17 mai. 2021.
ARCHDAILY. Parque Ibirapuera delimita áreas para garantir distanciamento social.Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/961690/parque-ibirapuera-delimita-areas-para-garantir-dista nciamento-social. Acesso em: 17 mai. 2021.
IDEALISTA NEWS. A pandemia marca uma nova fase da arquitetura.Disponível em:https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2021/04/06/46846-a-pandemia-marc a-uma-nova-fase-da-arquitetura. Acesso em: 18 mai. 2021.
MEDILAB. Fernando Espinosa de Los Monteros. Disponível em: https://www.medialab-prado.es/personal/fernando-espinosa-de-los-monteros.Acesso em: 18 mai. 2021.
MJARC ARQUITECTOS. Como a COVID19 afecta a arquitectura. Disponível em: https://mjarc.com/pt/noticias/como-o-covid19-afecta-arquitectura. Acesso em: 19 mai. 2021.
PORTAL DE NOTÍCIAS FACULDADE DE ARQUITETURA DE PORTO. FAUP estuda como as cidades e habitações estão a mudar com a Covid-19. Disponível em: https://noticias.up.pt/faup-estuda-como-as-cidades-e-as-habitacoes-vao-mudar-com-a-covid -19/. Acesso em: 18 mai. 2021.
PORTAL TVI. Parque das Nações transforma Jardim das Ondas para desconfianar em segurança. Disponível em: https://tvi24.iol.pt/sociedade/lisboa/parque-das-nacoes-transforma-jardim-das-ondas-para-d esconfinar-em-seguranca Acesso em: 19 mai. 2021.
SOBRE A AUTORA:
Rebeca Tavares, nascida em Governador Valadares-MG, criada em Vitória-ES e atualmente vive em Portugal. Estudante de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Integrante do Grupo de Estudos Andança no período de 2020 - até o momento. Membro do grupo de pesquisa do Núcleo de Participação e Democracia (NUPAD) do departamento de Ciências Sociais (UFES) no período de 2017-2019, Bolsista voluntária em Iniciação Científica CNPq|PIVIC no período de 2017-2018.
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